Escutai-O
5 de Março de 2020Escutar a voz que ressoa no silêncio
7 de Março de 2020SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA, ANO A
A Transfiguração, acontecimento próprio do Segundo Domingo da Quaresma (Ano A), anima a nossa esperança na luta contra as tentações e alenta o nosso coração no caminho de conversão ao Evangelho. Além da descrição, analisemos o que o evangelista nos quer dizer e como este acontecimento ilumina hoje a nossa vida, no concreto do nosso quotidiano.
‘Senhor, como é bom estarmos aqui!’
Quando Jesus Cristo leva ‘a um alto monte’ está, no fundo, a levar a experimentar a presença de Deus. Na Bíblia, são muitas as situações em que a experiência de relação profunda com Deus acontece no alto de um monte ou de uma montanha. Lembremos o chamado Sermão da Montanha (que acompanhamos nos domingos anteriores ao início dos dias quaresmal).
O acontecimento é extraordinário. Os discípulos só o vão compreender depois da ressurreição. O Mestre já o dá a entender ao dizer-lhes que não contem a ninguém, «até o Filho do homem ressuscitar dos mortos». O mesmo sucede connosco, pois só à luz da ressurreição podemos compreender o pleno sentido da vida.
O mais importante não está na ‘visão’ da transfiguração. São dois os elementos essenciais para a experiência de Deus: o amor que se projeta na experiência (‘Senhor, como é bom estarmos aqui!’) e a necessidade de escutar o amado (‘Escutai-O’).
‘Escutai-O’
Uma proposta fácil e difícil, ao mesmo tempo. Fácil, porque basta abrir o ouvido do coração, como pedia São Bento aos seus monges, é só dispor-se a escutar Jesus Cristo.
O difícil surge porque pensamos e dizemos que não temos tempo. E ficamos convencidos. O que acontece é que, até quando temos tempo, não temos ‘espaço’. Estamos tão envolvidos por tantas coisas, em ruído permanente, que não há ‘espaço’ para o silêncio, para acolher essa ‘nuvem luminosa’ que nos habita, e abrir o ouvido do coração à voz de Deus.
A aventura da fé mexe connosco. A aventura da fé não nos dá descanso, até à ‘transfiguração’ de cada um de nós e de toda a Criação. Entretanto, ecoa em cada dia da nossa existência aquele apelo «escutai-O» pela voz que se ouve a partir da nuvem, segundo a passagem evangélica da Transfiguração.
«Esta Transfiguração é semelhante à da Sagrada Escritura, que se transcende a si mesma, quando alimenta a vida dos crentes» (Papa Francisco).
O cristão senta-se à mesa da palavra, com disposição atenta e serena para escutar o que Deus tem para dizer, em cada domingo (em cada dia). Hoje, pedimos a força desse «alimento interior» que é caminho de purificação do «nosso olhar espiritual» (cf. oração coleta).
Esta Quaresma desafia-nos a recuperar o tempo da escuta, a encontrar ‘espaço’ dentro e fora e de nós: pode ser em casa, no quarto ou na sala, pode ser sozinho ou em grupo, pode ser numa caminhada ao ar livre ou na contemplação da natureza, pode ser sentado no banco de uma igreja ou de joelhos em adoração eucarística, pode ser numa simples pausa no trabalho, pode ser no carro ou no autocarro, na ida ou no regresso, pode ser… (o teu tempo e ‘espaço’ que vais disponibilizar neste tempo quaresmal).