A arte da serenidade
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5 de Novembro de 2019Aprender a morrer é um exercício quotidiano que, paradoxalmente, traz melhor qualidade à existência, desperta um novo e verdadeiro olhar sobre a vida. Quem tem medo da morte, é porque tem medo da vida.
MORTE
Como é que cada um de nós se prepara para a morte? Como é que nos relacionamos com a morte, a própria ou a de outra pessoa? As perguntas são essenciais para provocar a reflexão que esclarece a ‘ingenuidade’ de quem se recusa a admitir a realidade da morte.
O caminho pode ser mais ou menos longo, mas, como escreveu Montaigne, «todos os dias caminham para a morte, o último chega lá».
Há os que se deparam diante da morte com a mesma dificuldade da maioria dos profissionais da medicina: morrer equivale a uma derrota. Porque se pensa que ‘salvar’ a vida é evitar a morte.
Muitos dizem ter medo da morte ou, pelo menos, medo das suas circunstâncias. A uns e outros, podemos ensinar a ‘ter respeito pela morte’, propõe a médica Ana Cláudia Quintana Arantes: «O medo não salva ninguém da morte, a coragem também não. Mas o respeito pela morte traz equilíbrio e harmonia nas escolhas. Não traz imortalidade física, mas possibilita a experiência consciente de uma vida que vale a pena ser vivida».
‘Ter respeito pela morte’ começa por aceitá-la como um processo que nos acompanha desde o nascimento (até mesmo desde do momento em que somos concebidos no seio materno) e precisa de ser assumido com sabedoria.
Aprender a morrer é um exercício quotidiano que, paradoxalmente, traz melhor qualidade à existência, desperta um novo e verdadeiro olhar sobre a vida. Quem tem medo da morte, é porque tem medo da vida.
Ana Arantes chama ‘zombies existenciais’ aos que teimam em manter uma postura ingénua sobre a morte: «zombies existenciais que já se enterraram em todas as suas dimensões humanas e caminham sem rumo. Só falta morrer fisicamente».
O cristão não só percebe a morte como uma ponte para uma vida melhor como acredita na morte como uma ponte para a vida eterna, esse mergulhar eterno no amor de Deus.
A morte não é um fracasso para quem encontra o sentido da vida mergulhado no amor. O amor, escreveu Paulo Varela Gomes, é o outro nome da vida, «a presença amorosa de todos os que precisam de mim e d’Aquele de quem eu preciso».
Tudo pode morrer, todos havemos de morrer, só o amor tem dentro de si a imortalidade.