Uma aliança nova
18 de Março de 2021Coração aberto para a vida
20 de Março de 2021QUINTO DOMINGO DA QUARESMA, ANO B
Depois de Noé, Abraão, de Moisés no Sinai (onde se revela o amor mais forte do que as infidelidades do povo), neste Quinto Domingo, tudo culmina com «uma aliança nova». Aliança que se realiza de forma plena em Jesus Cristo.
‘Uma aliança nova’
A Quaresma, como dissemos nos primeiros episódios, tem carácter preparatório: o cristão, em comunidade, dispõe-se para as solenidades pascais. Durante quarenta dias, Deus vai dando a conhecer as bases da Aliança, prepara a terra, rega-a e deita-lhe adubo, arranca dela as ervas daninhas, semeia o grão de trigo… de modo que, em breve, na Semana Santa e Tríduo Pascal, dê abundante fruto, essa semente da vida que vai despontar em todo o seu esplendor, na Páscoa de Jesus Cristo. Desse fruto havemos de participar, em plenitude, aquando da nossa morte e ressurreição.
Entretanto, nos cinquenta dias pascais, há de nos ser mostrado como é que a semente da ressurreição vai dando os seus frutos, no dia a dia da nossa existência terrena.
Estamos no último episódio da ‘série’ dedicada à temática da aliança. Algo novo já começa a despontar! Jeremias, naquele que se designa como «Livro da Consolação» (capítulos 30 e 31), apresenta um tempo novo inaugurado e regido por ‘uma nova aliança’ gravada na tábua do coração. O coração guarda tudo o que é importante, tudo o que ajuda a viver com sentido a nossa vida.
Em todo o Antigo Testamento é a única vez que se faz referência à ‘nova aliança’. Aqui percebemos a ponte com a Nova e Eterna Aliança revelada na Última Ceia (os evangelhos segundo Marcos e Mateus falam de aliança; Lucas e na Primeira Carta aos Coríntios usam mesmo ‘nova aliança’).
Apesar da infidelidade do povo, que gravou o pecado na tábua do coração (cf. Jeremias 17, 1), Deus não abandona a Aliança, continua a amar o seu povo. O nome de Deus é misericórdia!
Jeremias atesta a persistência da Aliança («Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo») com uma novidade. Agora, já não se trata de mera renovação, mas o dom de ‘uma aliança nova’ assente em dois pilares: o ’conhecimento’ de Deus e o perdão dos pecados.
O crente confia em Deus, deixa-se amar, deseja um coração puro, abre-se aos frutos da Aliança. É a meta da Nova e Eterna Aliança. O horizonte do humano (crente) é possuir um coração purificado que lhe permita alcançar a visão divina, ‘ver’ a Deus.
A Eterna Aliança
Sempre que nós fechamos uma porta, Deus abre uma nova janela, insiste com nova oportunidade. Surge então uma Aliança ainda mais profunda e mais perfeita. Não será gravada em tábuas de pedra (como a de Moisés), mas gravada na alma e no coração. Deus está tatuado dentro de nós, habita o íntimo mais íntimo do nosso ser.
Jeremias é o profeta da esperança. Por entre as lamentações, ajuda-nos a não bater com a porta, antes a deixar entrar a brisa da esperança: a Nova e Eterna Aliança que foi para sempre selada com o sangue e o amor de Jesus Cristo.
A cruz, porém, não tem a última palavra. O amor até à morte possui a potência da fecundidade e da vida. Como um grão de trigo!