Amarás
22 de Outubro de 2020Fazer avançar o mundo
24 de Outubro de 2020TRIGÉSIMO DOMINGO, ANO A
A palavra de Deus coloca-nos diante do essencial: o imperativo do amor. Assim se expressa o maior mandamento da Lei: «Amarás». O exemplo vem do próprio Deus, fonte e meta do amor.
‘Amarás’
Jesus Cristo, quando fala de fazer o bem ou amar, tem sempre como referência a maneira de ser e de agir de Deus. Por isso, convém lembrar que, antes do mandamento de amar a Deus e ao próximo, está o amor de Deus por cada um de nós.
Todos temos necessidade de ser amados, sentirmo-nos amados. A falta de afeto deixa-nos dispersos e perdidos. A ausência de afeto descamba no sem sentido do ser e da existência.
O amor unifica o ser e dá sentido à vida. É o eixo à volta do qual gira toda a nossa existência humana. Assim é também no Evangelho, isto é, nas palavras e nas obras de Jesus Cristo.
Lembremos a sequência desta ‘série’: tudo começa com ‘um cântico de amor’ mais forte do que a morte, o amor da ressurreição; apesar das nossas infidelidades, Deus nunca desiste de nos convidar para o banquete da caridade; desperta, então, o nosso desejo de testemunhar este vínculo de amor, na prática das obras de misericórdia.
O amor a Deus e ao próximo tem mais possibilidades de germinar e frutificar em nós, quando, de coração agradecido, reconhecemos que somos amados, sempre e desde sempre. Isto enche-nos de paz e de alegria, invade-nos de um desejo profundo de testemunhar o amor. Há, portanto, um mandamento prévio ao amar a Deus e ao próximo: deixar-se amar, sentir-se amado por Deus.
A caridade dá que fazer!
A experiência nuclear na vida de cada pessoa é amar e ser amada. Deixa marca profunda em quem ama e em quem é amado.
Reduzir o amor a um sentimento é pouco, muito pouco! O cristão eleva-o à categoria de virtude que procede do próprio Deus e contagia todo o mundo.
O amor ultrapassa o âmbito sentimental: também entra no da convicção e do compromisso. Claro, quando é uma experiência agradável, amar é um prazer que satisfaz e ilumina interiormente. Mas, se o amor é fonte de dor já é bem mais difícil vivê-lo como convicção e compromisso.
Ao promover a cultura da caridade como imperativo cristão ficamos conscientes de que a caridade dá mesmo muito que fazer!
Onde há amor há um olharSomos chamados a ser ‘bons samaritanos’. Há de ser esse o nosso fazer de cada dia, o nosso estilo de vida. Sejamos ativos e criativos, generosos e ousados no exercício da caridade. Não podemos mais desviar o nosso olhar do irmão.
«Fomos criados para a plenitude, que só se alcança no amor. Viver indiferentes à dor não é uma opção possível; não podemos deixar ninguém caído ‘nas margens da vida’» (Carta Encíclica sobre a fraternidade e a amizade social, 68).
Pedro Casaldáliga, bispo brasileiro defensor dos pobres e dos povos indígenas, falecido no passado mês de agosto com 92 anos, dizia que as causas valiam mais do que a vida. Deixou-nos este testemunho: «No final do Caminho me dirão: — E tu viveste? Amaste? E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes». Quantos nomes é que tens inscritos no teu coração?