Sedentos, como os Magos
6 de Janeiro de 2024Domingo da Palavra de Deus
20 de Janeiro de 2024SEGUNDO DOMINGO, ANO B
A relação com Deus começa com uma proposta, que se escuta e se acolhe no coração e que, pouco a pouco, transforma a vida. Não tenhamos medo de crescer na vida espiritual! Escutar Deus é o primeiro passo para o caminho da fé.
“Fala, Senhor, que o teu servo escuta”
O Segundo Domingo (Ano B) guia-nos numa experiência que entrelaça o divino e o humano, a eternidade e o quotidiano, de modo tão forte que altera a vida. O refrão do Salmo 39 (40) — «Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade» — faz eco da resposta assertiva do jovem Samuel: «Fala, Senhor, que teu servo escuta».
O início da história é bem diferente. Samuel percebe uma voz, mas não é capaz de identificar o autor. O narrador dá-nos uma pista, no versículo sete: «Samuel ainda não conhecia o Senhor». A voz chega-lhe de surpresa e é uma novidade, «porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor». Aquele que chama não desiste, chama uma e outra vez, até que a voz dele seja reconhecida e lhe seja dada uma resposta favorável: «Fala, Senhor, que o teu servo escuta».
O salmista, a fim de vencermos a dificuldade inicial em identificar a voz, lembra que a prioridade, o ponto de partida, é estar disponível para acolher a vontade divina. Confirma que a lei, ou seja, a palavra de Deus «está no meu coração». Não é uma doutrina imposta ou um conjunto de regras externas, a lei de Deus vive e pulsa dentro de nós, orienta as nossas decisões e ações, a partir de dentro, está guardada no coração.
A Bíblia, carta de amor
A palavra de Deus irrompe na nossa vida de modo surpreendente, porventura também como novidade, para nos convidar a abrir a mente e a dispor o coração para reconhecer a voz que nos chama a iniciar ou a fortalecer a relação de amizade com Deus. Uma relação, portanto, que vá além do conhecimento intelectual, que entre no território dos sentimentos e da experiência concreta da vida. Vale a pena recordar esta anotação de Santo Inácio de Loiola, no início dos Exercícios Espirituais: «não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e gostar das coisas internamente». Isto implica os ouvidos atentos para escutar a voz de Deus e o coração dócil para acolher o chamamento.
A história de Samuel serve de mote para recomendar uma jornada de treino da escuta. Deus fala-nos de muitos modos. Contudo, nesta ‘série’ reforçamos o convite à leitura quotidiana da Bíblia, a ler um breve texto por dia. O resultado, com a resposta favorável, é que o texto bíblico se torne «Palavra viva» (cf. Carta Pastoral de Dom José Cordeiro: «Juntos no Caminho de Páscoa»), em nós, à semelhança do que acontece na ação litúrgica.
A Bíblia, diz o Papa, é «a carta de amor escrita para nós por Aquele que nos conhece como ninguém: lendo-a, voltamos a ouvir a sua voz […]. A Palavra aproxima-nos de Deus: não a deixemos longe. Levemo-la sempre connosco, no bolso, no telemóvel; […] de tal modo que, no meio de tantas palavras que chegam aos nossos ouvidos, qualquer versículo da Palavra de Deus chegue ao coração».